20 setembro 2008

10 MILHOES POR DIA!!! E EU TOMANDO NO CU DE NOVO

Ao custo de R$ 10 mi por dia, Câmara dos Deputados passa a semana quase vazia
Gustavo Krieger - Correio Braziliense

A semana na Câmara dos Deputados já começou com cara de tempo perdido. Na manhã de segunda-feira, o plenário foi aberto para uma sessão de homenagem aos 173 anos da Revolução Farroupilha, no Rio de Grande do Sul. Só um parlamentar discursou: Pompeo de Mattos (PDT-RS). Não por coincidência, ele foi o autor do requerimento para realizar a sessão. Sem concorrência pelo microfone, o pedetista se deu ao luxo de ler da tribuna um poema de sua própria autoria. “Não se iguala, Rio Grande, com os feitos dos teus filhos, nem ninguém ofusca o brilho do timbre de suas canções”, proclamou.
E foi assim pelos dias seguintes. O Congresso está em “recesso branco” para que os parlamentares possam participar da campanha eleitoral nas cidades de sua base eleitoral. Sem nada para votar, as sessões se transformaram numa espécie de clube de amigos. Um parlamentar discursando, dois ou três ouvindo e outro no cafezinho esperando a vez de falar. Um diletantismo que impacta os cofres públicos. Manter a Câmara custa pouco mais de R$ 10 milhões por dia. O Senado, cerca de R$ 7 milhões. De segunda a sexta-feira, a conta chegou a R$ 85 milhões. O resultado foi zero.
Quem quis falar, falou. Sobre qualquer coisa. O deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) não leu nenhum poema. Mas fez praticamente tudo o mais. Em um pronunciamento de três minutos bateu o recorde de versatilidade parlamentar. Começou elogiando a posse da nova diretoria da Federação dos Aposentados de São Paulo. Depois, cumprimentou o novo presidente do Tribunal do Trabalho da 2ª Região. A seguir, contou orgulhoso ter recebido o título de cidadão honorário da cidade de Poá, no interior de São Paulo. “Registro o brilhante discurso da doutora Antônia, juíza da cidade, que sem dúvida muito me enalteceu”, fez questão de destacar.
Logo a seguir, enveredou pelos caminhos da macroeconomia internacional. Falou sobre a crise do mercado financeiro americano e a falência do liberalismo chileno. Num corte rápido, voltou ao Brasil e a questões bem mais domésticas. “Não posso deixar de registrar que ontem em São Paulo tive meu carro roubado”, protestou. E o desabafo prosseguiu: “Destaco também que, por uma ação trabalhista indevida, acabei tendo a minha conta no Banco do Brasil bloqueada”. A vida não anda mesmo fácil para o deputado. Mas ele não se abala. Ainda achou tempo para registrar o “dia do transportador de carga” e elogiar um amigo que ganhou o título de cidadão paulistano.

Os dois parlamentares que estavam no plenário teriam ficado confusos, se estivessem prestando atenção, tamanha a gama de “informações” proferidas pelo colega.
Solidão
Seria possível imaginar que os deputados desistissem diante do plenário vazio. “Eu sinto solidão aqui, mas estou cumprindo minha obrigação”, diz Vicentinho (PT-SP). Havia apenas três testemunhas para assistir ao seu pronunciamento sobre “o grave problema do assédio moral no Brasil”. Ninguém aparteou. Mas há um incentivo extra. “As câmeras ficam fechadas no sujeito que está discursando e ninguém vê o plenário”, explicou um segurança que acompanhava duas turistas de Minas Gerais. Com pouco movimento, as moças tiveram a chance de tirar fotos sentadas na bancada dos parlamentares.

A TV Câmara é um grande incentivo. Dá até para fazer campanha. “Fiquei muito contente ao ver minha esposa Adriana concorrer à prefeitura de Presidente Prudente”, comemorou o deputado Dr. Talmir (PV-SP). Essa reação seria de se esperar, claro. Mas o parlamentar aproveitou a chance para se desmanchar em elogios à própria mulher. Ficou bem em casa e ainda cabalou uns votinhos.
Dá até para arrumar o lugar de honra, no alto da mesa diretora. Um item do Regimento Interno foi mais usado do que o parágrafo 2 do artigo 18. Ele diz que, se nenhum integrante da Mesa estiver presente, os trabalhos serão comandados pelo parlamentar mais velho e com mais legislaturas. Na sessão de terça-feira, havia tão pouca gente que num momento a Presidência acabou com o deputado Laércio Oliveira (PSDB-SE), de 39 anos, e que assumiu o mandato em 12 de agosto.
O número
Os números do Legislativo

Deputados: 513
Senadores: 81
Salário dos parlamentares: R$ 16,5 mil mensais
Orçamento da Câmara: R$ 3,7 bilhões
Orçamento do Senado: R$ 2,7 bilhões

Quantos deputados passaram pela Câmara esta semana:
Segunda: 23
Terça: 53
Quarta: 57
Quinta: 31